quinta-feira, 10 de maio de 2018

Geringonça (12): O teste ao PS

1. Em reação a um anterior post, perguntam-me se não reconheço nenhum mérito à própria Geringonça. Ora, apesar de não ser fã da dita, tenho de reconhecer alguns importantes méritos à sua existência, para além de ter sido condição e requisito imprescindível para a rejeição do segundo Governo de Passos Coelho e para a formação do atual Governo do PS (pois a alternativa teria sido um governo minoritário da direita, com o PS a liderar a oposição de esquerda).
Fora isso, o primeiro mérito está no facto de a Geringonça se reduzir a um acordo de incidência parlamentar limitado a algumas políticas governativas - no essencial à política de rendimentos -, o que mostra que não há condições para uma coligação governamental entre o PS e os partidos à sua esquerda, desde logo por não ser viável um programa comum de governo, muito menos um governo conjunto, dadas as enormes diferenças doutrinais e políticas entre eles.
Em segundo lugar, na prática destes dois anos, a Geringonça mostrou que só é possível num ambiente económico de "vacas gordas", suscetível de gerar o edge orçamental suficiente para pagar a pródiga política de rendimentos que ele exige, sendo impraticável fora desse quadro económico.

2. Resta o mérito mais importante.
A Geringonça foi um notável teste quando à resistência do PS à tentação esquerdista de pôr em causa o compromisso com o rigor orçamental e o equilíbrio das contas públicas, no quadro da união económica e monetária da União Europeia, e com uma "economia social de mercado", em que o papel do Estado consiste em garantir a concorrência, regular as "falhas de mercado" e assegurar o acesso universal aos "serviços de interesse geral", mesmo quando fornecidos no mercado.
Embora considerasse disparatados os alertas de "perigo vermelho" lançados por algum imprensa internacional, confesso que a minha oposição à solução de governo negociada em 2015, para além de uma questão de princípio contra alianças de governo com a extrema-esquerda, tinha a ver com fortes receios de que, dependendo de tais aliados, o PS não ia resistir à tentação esquerdista, abandonando o seu tradicional posicionamento de centro-esquerda. Ainda bem que assim não foi, em geral.