sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Contrassenso


1. Na sua recente entrevista ao Público, o presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, J. Vera Jardim, antigo ministro e deputado do PS, criticou em termos contidos (função obriga!...) várias regalias legais da Igreja Católica, entre elas o atual regime de capelanias militares, as quais, além da remuneração do Estado, implicam a atribuição de um posto de oficial aos ministros da Igreja Católica destacados para essa missão!
Por meu lado, não tendo nenhuma obrigação de deferência política nesta matéria (nem noutras, aliás!), reitero o que sempre sustentei (por exemplo, aquiaqui), ou seja, que se trata de um contrassenso num Estado laico e de uma violação grosseira da separação entre o Estado e a religião. O Estado tem obviamente obrigação de facultar aos militares aquartelados ou em missão a disponibilidade de assistência pelas respetivas confissões religiosas (locais de culto, presença de ministros do culto, etc.). Mas não pode ele mesmo encarregar-se de manter esse serviço. Um Estado laico não pode assumir funções religiosas.

2. O que é lamentável é que os governos e as maiorias parlamentares vão e vêm, sem que esta derrogação qualificada da separação entre a Igreja e o Estado seja corrigida. Entre os grandes consensos tácitos dos partidos governantes está a vassalagem aos privilégios herdados pela Igreja Católica do Estado Novo. E nesta matéria o "respeitinho" é geral, pois nem os partidos da extrema-esquerda ousam discrepar...