quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Malhas que a insensatez política tece

1. A não ser que um assomo de bom senso prevaleça, tudo se encaminha para que a direita e a extrema esquerda parlamentar se aliem na questão da retribuição e da declaração pública de património e de rendimentos dos gestores da CGD, com o risco de abertura de uma crise na instituição que poderá pôr em causa o programa de recapitalização tão laboriosamente engendrado pelo Governo para salvar a Caixa.
O oportunismo político da direita nesta matéria é gritante. Depois de ter escondido debaixo do tapete as dificuldades da Caixa e a necessidade de recapitalização enquanto foi Governo - talvez com o secreto desejo de arranjar uma alavanca para a privatizar -, o PSD opõe-se agora à única solução que se tornou viável depois da sua imprudência, só para causar dificuldades ao Governo e à instituição.
Por sua vez, a extrema-esquerda sobrepõe o seu inflexível dogmatismo nestas (e noutras) matérias ao objetivo de salvar a Caixa como banco público, julgando que pode ter "o sol na eira e a chuva no nabal".

2. Ora, a situação crítica da Caixa não se compadece nem com o oportunismo político de uns nem com o dogmatismo doutrinário de outros. Há situações de "estado de necessidade" que requerem soluções especiais, pelo menos a título transitório.
Seria assaz irónico que, cinco anos depois de 2011, a direita e a extrema-esquerda parlamentar voltassem a unir votos, num irresponsável casamento de conveniência, para derrotar um Governo do PS, com o "picante" acrescido de a segunda fazer agora parte da maioria parlamentar de apoio a esse mesmo Governo.
Malhas que a política sem princípios da direita e os princípios sem política da extrema-esquerda tecem.