segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Eleições na Tunisia 18




Notas finais (por ontem, porque já passa da meia noite do dia 23):

- A afluência às urnas foi altíssima, pacifica e ordeira em Tunis. E tudo indica que o mesmo se passou no resto do país. Os tunisinos e as tunisinas mostraram extraordinário civismo, querer a democracia e estar mais do que preparados para ela.

- Demonstraram também um grau de activismo que só pode ser prometedor para a aprendizagem democrática que se segue a quaisquer primeiras eleições genuínas. Mais de 13.000 observadores nacionais (e 700 internacionais) mobilizaram-se para assegurar o controle do processo eleitoral. A maioria dos observadores nacionais foram mulheres jovens. Os representantes dos partidos nas mesas de voto, em contrapartida, eram sobretudo homens.

- A fragmentação do espectro político que muitos previam não deverá afinal ocorrer. Há muito partido - ou aspirante a partido - que será varrido. A concentração de votos em 5 ou 6 partidos tornará muito mais geríveis administrativamente as próximas eleições. E politicamente vai com certeza gerar coligações, para governar ou fazer oposição. Tudo depende da largura da fatia eleitoral que couber aos islamistas do Ennahdha. E de os partidos seculares se aliarem com eles ou contra eles.

- As mulheres vão certamente estar muito melhor representadas na Assembleia Constituinte do que muitos previam: a concentração de votos nalguns partidos vai fazê-las entrar em força, graças à lei da paridade a 50/50. A Tunisia muçulmana vai assim dar um grande bigode aos bigodudos tacanhos do mundo inteiro, incluindo na secular UE.

- A via democrática vai entregar o poder a forcas anti-democráticas, amargurarão muitos, na Tunisia e por esse mundo fora. Não sei. Veremos. Está por demonstrar que os islamistas não joguem o jogo democrático. Mas se forem empurrados para fora do ringue da democracia - como há 36 anos alguns se propunham fazer aos comunistas em Portugal - então é que, de certeza, não jogam.
O mais inteligente - além de respeitador das regras democráticas- é não lhes dar pretextos. E antes dar lhes combate efectivo a toda e qualquer veleidade reaccionária que possam ensaiar.
O que supõe, para muitos defensores de valores liberais e seculares, esquecer os egos, forjar alianças e tirar os rabos dos sofás e os olhos dos computadores. Para descer para o meio do povo, lá onde os islamistas hoje, indubitavelmente, nadam como peixes na àgua.