terça-feira, 6 de setembro de 2011

Preocupações sobre Angola

Enquanto militante anti-colonialista desde que me conheço, sempre apoiei a independência de Angola.
Depois, enquanto portuguesa, nunca tive dúvidas de que, no conflito interno angolano, os interesses permanentes de Portugal passavam pelo apoio ao MPLA.
Enquanto socialista, e como dirigente responsável pelas Relações Internacionais do PS em 2003/2004, propus que, terminada a guerra em Angola, o PS apoiasse a entrada do MPLA na Internacional Socialista, contra todos os obstáculos até aí suscitados. Isso concretizou-se no Congresso da IS em S. Paulo, Brasil, em Novembro de 2003. Do meu ponto de vista, a qualidade de membro da IS só confere ao MPLA acrescidas responsabilidades na governação e no respeito pelos direitos e liberdades democráticas.
Estive em Angola como observadora pelo PE das eleições de 2008 e vi, apesar das muitas irregularidades, a grande esperança dos angolanos numa evolução democrática do seu país.
Por tudo isto, lamento profundamente o que se está a passar em Angola: não apenas a repressão violenta da manifestação deste 3 de Setembro em Luanda, mas todos os actos de arbitrariedade e intimidação dirigidos contra activistas políticos, sociais e de direitos humanos e contra jornalistas, que têm ocorrido nos ultimos anos também noutras cidades e em Cabinda.
Lamento em particular a falta de clarividência das autoridades angolanas, parecendo não perceber que o mundo mudou e que as razões da guerra civil, que levavam a etorses às liberdades e direitos básicos, se alteraram com a Paz: por isso, têm de esperar ser sindicadas pelas atitudes que tomam no exercício do poder.
Com comportamentos desproporcionados, como os assumidos contra umas centenas de pessoas numa manifestação devidamente autorizada, o MPLA e o governo angolano estão a transformar em críticos severos muitos dos que estiveram ao seu lado no decurso das guerra colonial e da guerra civil, como eu própria.
Lanço daqui um apelo à serenidade e à inteligência das autoridades angolanas, no sentido de perceberem que não podem travar o caminho da História: os angolanos têm todo o direito de apoiar o Presidente José Eduardo dos Santos, tal como têm também todo o direito de não o apoiar e de se expressar livremente contra ele.