sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril sempre!


Onde estava no 25 de Abril? repetem-me a pergunta nestes dias. E eu respondo: afortunadamente, estava lá.
O telefonema do Toné chegou às 7 da manhã. "Tropa na rua. É desta!"
Seria? Mês e meio antes não fora...
Vesti-me, ainda consegui apanhar o 29 para a Junqueira, cheguei à Compania Portuguesa de Congelação, onde trabalhava (tinha sido suspensa da Faculdade em Janeiro...), para ver todo o pessoal a ser mandado embora para casa. "Será que é mesmo desta?"
Uns telefonemas : "Onde hei-de ir ter?". Para a Baixa, para a Baixa!
Passei a manhã a calcorrear as ruas entre o Rossio e a Rua do Arsenal.
À hora do almoço, em reunião improvisada no Cineclube Universitário, à Almirante Reis, os prognósticos eram pessimistas: "Spinolismo? uma nova forma de marcelismo." Mas largamos ao principio da tarde para o Largo do Carmo, fundindo as incertezas na multidão vibrante que vitoriava os soldados e exigia a entrega de Marcelo.
Ao fim da tarde gritava "assassinos" a plenos pulmões na António Maria Cardoso, quando as G3 da pidaria vomitaram sobre nós. Recuei, corri, tropecei, entrei de roldão com muito mais gente num vão de escada, a seguir ao S. Luiz. Fiquei, ficámos, à espera não sei de quê. Terão sido minutos, pareceram horas. Alguns soluçavam, era mais a raiva que o medo.
Era insuportável ficar ali, escondida. Escapuli-me. À frente da Brasileira, alguém conhecido me parou e fez beber água para me acalmar a respiração ofegante. Vi o Adriano com o calcanhar a sangrar, vi-o ser metido num carro e ser levado. Houve mortos, corria.
Uma hora depois o rumo era Caxias. Era preciso exigir a libertação dos presos. Corriam perigo, os canalhas poderia retaliar sobre eles.... Já não me lembro quem nos levou até lá de carro. Mas lembro-me da espera, na noite cerrada, no meio dos pinheiros que entrecortavam pequenos aglomerados de gente como nós. E lembro-me da luz de repente brotar, uma porta a abrir-se e eu a procurar as caras de amigos presos. E de repente ter à minha frente o Tó Luis e saltar-lhe ao pescoço, doida de alegria!
Ah, maravilhoso 25 de Abril e corajosos capitães! Quanto vos devemos e tanto que, tantas vezes, o esquecemos!
Devemo-vos um país!
Porque sem a liberdade e a democracia que o 25 de Abril abriu, Portugal não valia a pena!