domingo, 3 de fevereiro de 2008

As "falhas" das Judites

O Bastonário da Ordem dos Advogados voltou a dizer o óbvio na entrevista a Judite de Sousa na RTP 1, esta semana: que o processo Casa Pia foi manipulado para decapitar politicamente o PS. Não qualquer PS – o que lutava pela transparência das contas partidárias e dos financiamentos dos partidos, o que ia resistir à corrupção do “centrão”, o da direcção Ferro Rodrigues.
Lembram-se dos insultos com que me tentaram cilindrar na altura - inclusivé, dentro do PS -por denunciar esse mesmo óbvio? acusavam-me então de invocar uma “cabala” - palavra que nunca usei já que sugere o engenho de forças do além; antes preferi, e prefiro, “urdidura”, que é inevitavelmente produto de mãos e mentes sordidamente terrenas.
Judite, angelical e subitamente falha de memória, retorquiu ao Bastonário qualquer coisa neste género: “o quê, está a referir-se a Paulo Pedroso?”. Tadinha, esqueceu-se que não foi só contra Paulo Pedroso que foi orquestrada a miserável campanha de difamação, graças ao acompanhamento “con brio” de vários jornais e jornalistas ditos “de referência”, ajudando a calúnia a ribombar, em vez de a desmontarem como competia a profissionais sérios e competentes: obnubilou-se-lhe, a Judite de Sousa, que Ferro Rodrigues, o então SG do PS, foi também então ignobilmente atacado.
O Bastonário Marinho Pinto, no entanto, errou num ponto: quando pôs o ónus da grosseiramente manipulada investigação só na PJ. (By the way, por onde anda a oficiar hoje, impunemente, aquele inqualificável Conselheiro Adelino Salvado, que então dirigia a PJ e se entretinha a envenenar jornalistas contra os dirigentes do PS? aposto que ainda o vamos descobrir por aí, aconchegado nalgum cargo público, protegido pelos rapazes do «centrão»...)
O que vale é que o actual Director da PJ, Alípio Ribeiro, veio ontem pôr os pontos nos iis, na entrevista ao programa “Diga lá, Excelência”: “ Sobre essa teoria da cabala que é agora imputada à Polícia Judiciária a verdade é que a investigação não foi feita nos termos em que é normal, dentro da sua autonomia técnica e táctica. Foi num contexto histórico muito específico, em que os elementos da PJ que integravam a estrutura dessa investigação actuavam em função das ordens concretas dos magistrados” (transcrição no PÚBLICO de hoje).
Era bem sabido na PJ que membros da equipa designada para esta investigação eram profissionais vulneráveis e por isso nunca deviam ter sido encarregues dela e ainda menos respaldados. Mas eles, de facto, actuavam sob a direcção do Magistrado do MP João Guerra e suas co-adjuvantes. E é o que, ou quem, os movia, que importa também agora pôr a limpo em Justiça, nos processos que Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues movem contra o Estado e contra os caluniantes. Para que se descubra quem caluniou, quem conspirou para caluniar e porquê. Para que se faça Justiça.