sábado, 16 de dezembro de 2006

Quem não deve, não teme

O ex-Ministro da Defesa Paulo Portas anda, aparentemente incomodado, a perguntar porque foram só ele e o seu colega ex-MAI chamados a ser ouvidos pela Comissão Temporária de Inquérito do PE sobre os chamados «voos da CIA» e não também os ex-MNEs. Sugere até uma incongruência pelo facto do interlocutor da Comissão no actual governo ser o MENE Luis Amado.
Pois a explicação é simples:
O actual governo escolheu um porta-voz: o MENE. Um governo em funções, por definição, deve estar coordenado e coordenar os serviços e responsáveis das instâncias técnicas e policiais que foram ouvidos pela Comissão: SEF, INAC e NAV.
Os anteriores governos, por definição, não têm já existência e muito menos coordenação ou porta-vozes.
Só MNEs dos anteriores governos a Comissão teria de ouvir 3 pessoas (Martins da Cruz, Teresa Gouveia e António Monteiro). E, cortesia do deputado Carlos Coelho (a presidência de uma Comissão serve também para «controlar danos»), a delegação do PE só tinha um dia para passar em Lisboa. Era preciso escolher judiciosamente quem ouvir no insuficiente tempo disponível.
Eu escolhi: e por isso propus Paulo Portas e Figueiredo Lopes. O que foi aprovado pela Comissão. E por isso eles foram convidados a vir conversar com a delegação do PE. Não vieram: o que tem um significado político, como não escapou a ninguém.
Além disso, de facto, os MNEs seriam objectivamente menos úteis para a investigação: não foi o MNE quem superintendeu subtantivamente serviços essenciais nos mecanismos de controle que deveriam ter funcionado relativamente a voos civis ou militares autorizados por Portugal e envolvidos no circuito das «extraordinary renditions» da Administração Bush.
SEF e SIS estiveram sob a alçada do MAI.
E quanto aos voos militares e ao SIEDM, a responsabilidadezinha pertenceu inquestionavelmente ao MDN.
Isto é, ao Dr. Paulo Portas, que transitou, inefavelmente, do Governo Durão Barroso para o de Santana Lopes.
O Dr. Paulo Portas que é quem, certamente, mais sabe da poda. Talhada pelo seu amigo e medalhante Donald Rumsfeld.
Se não fosse assim, o Dr. Paulo Portas, que até se costuma pelar por chicuelinas, não se furtava a dar a cara frente à Comissão do PE.
Já lá diz o ditado: quem não deve, não teme.