sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Cessar de asnear

Dedico a transcrição da entrevista do ex-agente da CIA Michael Scheuer (ver post acima "Um olhar da CIA sobre o legado de Bush") ao meu colega no Parlamento Europeu, do PSD, Vasco Graça Moura. Pelo seu artigo "Cessar o quê?", publicado dia 23 no DIARIO DE NOTICIAS.
O deputado do PSD acha que "a ONU não presta para nada", explica que "a UE não existe militarmente" (atlanticistas ferrenhos como ele fazem muito por isso), sustenta que só os EUA e a Grã-Bretanha «parecem ter compreendido todas as implicações civilizacionais e geoestratégicas» da sobrevivência de Israel face ao mundo islâmico e às redes terroristas» e defende que «os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial do Irão».
Se "a ONU não presta para nada", porque será que os EUA se esmifraram por obter a resolução 1701 na ONU? Quem é que foi determinante para a abortolice que a resolução 1701 é (implicitamente capítulo VI, já que o capítulo VII não é mencionado) a refrear o mandato da UNIFIL e sem explicar como e quem desarmará o Hezbollah? Não, não foi Kofi Annan, nem mais de 180 membros da ONU que a pariram: bastaram 5 membros permanentes, liderados pelos EUA e pela França que negociaram praticamente entre si a resolução (Blair achou mais importante ir a banhos nas Caraíbas...). A ONU só não presta quando alguns dos seus mais decisivos membros também não prestam e/ou não a sabem fazer prestar.
E se a Europa é tão inexistente militarmente, porque será que americanos e israelitas estão a suplicar aos europeus, franceses incluídos, que se apressem a reforçar a UNIFIL no Líbano, apesar da abortolice da 1701? E porque será que os prescientes EUA e RU não estão preparados para contribuir para a força internacional no Líbano, em lugar dessa Europa «que não existe militarmente»?
E, ainda, porque é que os clarividentes governos americano e britânico deixaram que o Irão ficasse com tanta faca e queijo na mão ao longo dos últimos anos na região?
E porque é que Israel, se não tem outro remédio senão atacar o Irão para lhe neutralizar o potencial nuclear, ainda não atacou, ou não atacou mais cedo?
E, finalmente, será que Israel vai ser tão bem sucedido no ataque ao Irão como foi no Líbano?
Talvez um ex-agente da CIA - criatura teoricamente não classificável de "alma ingénua" ou "de esquerda pós soviética" - auxilie Vasco Graça Moura a encontrar as respostas.