sexta-feira, 29 de julho de 2005

Dili, remodelação, 2005

Ontem assisti em Dili à tomada de posse dos novos membros do Governo timorense. Três anos e um mês depois da Independência, ocorre a primeira remodelação governamental.
Que diferença!
Desde logo, a cerimónia tem lugar na antiga casa do Governador colonial em Lahane, agora residência oficial da Presidência da República. Bem recuperada (faltam alguns acabamentos e a decoração interior), com apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da UCLA. A vista é magnífica sobre Dili, luz coada ao fim da tarde, Ataúro atrás do mar azul espelhado. Em 2002 a casa estava esventrada, sem telhado, queimada. Em Março de 1999, depois de visitar Timor-Leste pela primeira vez, disse a Xanana na prisão de Salemba que, se aquela casa não viesse um dia a ser utilizada pelo Estado timorense, teria de ser a residência da embaixada de Portugal.
A cerimónia é concorrida e formal, embora sem excessos. Discursos do PM e do PR curtos, medidos, lidos. Nada das arengas do passado. Profissional, embora distendida pelas provocados pelas bocas sorridentes que o PR vai mandando em surdina aos empossados.
Todos os homens membros do Governo estão de fato e gravata, Presidente da República incluido - em 2002, nas cerimónias da independência, ele recusara o apêndice. As mulheres mostram mais diversidade na fatiota, apesar da sobriedade geral. O corpo diplomático comenta quem é quem.
Há mais uma mulher Ministra - uma jovem engenheira na sensibilíssima pasta das Obras Públicas (passarão por ali boa parte dos milhões do petróleo nos próximos anos, as tentações não faltarão).
A remodelação tem a ver com a crise política recente, disparatadamente desencadeada e conduzida por certos tenores da Igreja. Que não se conformam por ter perdido protagonismo político (uns que há uns anos eu ouvi dizer, pouco cristamente, referindo-se aos indonésios em geral, «a gente perdoa-lhes, mas só depois de todos mortos...»). E que o ressaibiamento hoje cega, ao ponto de não se importarem de serem instrumentalizados por outros interesses para explorar a natural insatisfação de muito povo que ainda não viu as expectativas minimamente satisfeitas.
A remodelação é um bom princípio e vai no bom sentido. Mas parece-me ficar aquém das necessidades. E as necessidades passam muito pela capacidade de comunicação dos governantes com o povo. Esse que fora de Dili, nos distritos, só conhece o que vai na governação do país sobretudo através das homilias nas igrejas. Porque, todos concordam, a crise política ainda não está completamente encerrada. A procissão pode ainda ir no adro.