sexta-feira, 16 de julho de 2004

Santana, o imparável

No seu afã de nos surpreender a todos, ao ritmo de um facto político por minuto, Santana Lopes já deve ter deixado cair o propósito de colocar ministérios e secretarias de Estado fora de Lisboa. Imagine-se só que o novo Ministro de Estado e dos Assuntos Económicos iria trocar a Lapa pela Boavista! (Quem sabe, aliás, se uma das razões da promoção estatal do ministério não foi mesmo para justificar a sua permanência na capital?).

Em contrapartida, a nomeação anunciada de Nobre Guedes para o Ambiente (falara-se dele para a Justiça, mas, pelos vistos, as duas pastas são claramente intermutáveis) é uma demonstração de génio imaginativo na relação de forças dentro da coligação. Já agora, porque não recuperar Celeste Cardona para a Cultura ou até Figueiredo Lopes para a Inovação, em vez de remetê-los para o desemprego político?

O único problema é que a sugestão já não vai a tempo (embora Santana tenha demonstrado uma humildade assinalável na aceitação de todas as sugestões, nomeadamente as da comunicação social, conforme declarou). Lançado no seu afã de voluntarismo político e de primeiro-ministro mais veloz do que a própria sombra, Santana já terá antecipado a tomada de posse do Governo para este fim-de-semana, precedendo assim o glorioso 19 de Julho de todos os aniversários que se propunha comemorar. Será que, afinal, não quis ser confrontado com o fantasma de Sá Carneiro e decidiu surpreendê-lo pela antecipação?

Vicente Jorge Silva