quarta-feira, 23 de junho de 2004

Cábula para um prémio bizarro

Confesso que me vi em palpos de aranha para arquitectar uma explicação dos motivos que nos levaram a criar o prémio José Mourinho e dos critérios seguidos nas nomeações. Enquanto os meus companheiros de blog se sentiram confortáveis com as suas «trouvailles» mais ou menos poéticas, eu sofri com o dever de ser minimamente pedagógico na minha missão de oficiante do dito prémio, de forma a torná-lo menos esotérico do que parecia (ou seria). Para isso escrevi uma laboriosa cábula que só as gargalhadas dos bloguistas reunidos no Lux resgataram do ridículo. Eis o que reza a cábula (para eventual esclarecimento de quem não esteve na festa):

«Homenagem ao super-herói português da actualidade, prémio muito masculino, que visa distinguir figuras muito acima da mediania nacional, muito afirmativas, de barba rija, no sentido real ou metafórico, e que constituem exemplos do espírito empreendedor português tão caído no esquecimento ou nas ruas da amargura. Responsáveis por obras, iniciativas ou coisas prodigiosas cuja ousadia ultrapassa a imaginação ou a verosimilhança (num país onde a pequenez é de regra e os grandes gestos são raros) e se situam na fronteira entre o real e o virtual.

Os nomeados são, obvia e indiscutivelmente, José Mourinho, até por ser inspirador do prémio e dispensa, por isso, outras justificações.

Alberto João Jardim pela sua insuperável longevidade política, por ter criado um verdadeiro Estado dentro do Estado, ainda por cima insular, onde faz vingar há quase trinta anos uma concepção verdadeiramente singular das liberdades democráticas e do rigor financeiro. Rigor que não o impede, como ainda hoje foi noticiado, de anunciar 129 inaugurações -- 129, notem a precisão do número, não são 130 -- até às próximas eleições regionais.

E, finalmente, Pedro Santana Lopes, pelo seu frenético e imbatível talento para inventar surpresas e factos políticos e por ter criado na capital do país um exuberante clima festivo como nunca se viu, com uma prodigiosa capacidade de imaginar e realizar obras virtuais como o túnel do Marquês, o novo parque Mayer de Frank Ghery, o casino do Jardim do Tabaco, a feira popular ou o hipódromo em Monsanto, sem falar de outras coisas igualmente fabulosas e dignas de uma fantasia oriental. Tudo isto, sem esquecer, claro, a sua candidatura (não se sabe se real ou virtual) à presidência da República.»


(PS... Como já é conhecido, o vencedor foi Pedro Santana Lopes)

Vicente Jorge Silva