segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Vertigem grega (15)

1. É evidente que a Grécia sofreu uma austeridade e uma recessão mais longa e mais profunda do que a portuguesa, desde logo porque a sua situação de partida era muito mais grave e depois porque a resistência social à austeridade e a instabilidade política prejudicaram a execução dos programas de resgate.
O que se tende a esquecer, apesar de ser igualmente evidente, é que apesar dessas dificuldades, os resultados já começaram a aparecer. No ano passado o défice orçamental já ficou abaixo dos 3% (melhor do que Portugal); a economia já cresceu e o desemprego começou a ceder, embora marginalmente; e os juros da dívida já tinham baixado o suficiente para que a Grécia pudesse aventura-se no mercado. O único ponto resistente continuava a ser o das exportações, não tendo a Grécia conseguido suprimir o seu défice de competitividade (que não depende somente dos preços internos).

2. Por isso, tendo já passado a fase aguda da austeridade, a questão da Grécia não consistia em adotar mais medidas de austeridade, mas sim em não desfazer o que foi feito (como o Syriza aventureiramente propunha) enquanto a economia e as finanças gregas não estiverem definitivamente a salvo. A Grécia corre o risco de morrer na praia, perdendo ingloriamente todos os sacrifícios destes cinco anos e desaproveitando a retoma económica iniciada.
O que falta na Grécia é concretizar as reformas estruturais que mal foram iniciadas, nomeadamente a racionalização do aparelho administrativo, a criação de uma verdadeira administração fiscal, a conclusão do programa de privatizações e a introdução de mais concorrência na economia.

3. Entretanto, desde a vitória do Syriza a situação orçamental e económica grega deteriorou-se claramente. As previsões de crescimento e de redução do défice orçamental já não devem ser alcançadas. Por isso, enquanto o anterior governo grego estava a negociar a saída do programa de resgate (que seria substituído por uma "linha cautelar"), agora já se fala na eventual necessidade de um terceiro resgate, prolongando a tutela financeira externa.
Desgraçadamente, os gregos podem ter perdido muito com a troca.